sábado, 14 de novembro de 2015

As Crianças

E uma mulher
que trazia um menino ao colo
disse:

- Fala-nos das Crianças.

E ele respondeu:

- Os vossos filhos
não são vossos filhos:
são filhos e filhas
do chamamento da própria Vida.

Vêm por vosso meio
mas não de vós;
e apesar de estarem convosco,
não vos pertencem.

Podeis dar-lhes o vosso amor;
mas não os vossos pensamentos:
porque eIes têm pensamentos próprios.

Podeis acolher os seus corpos;
mas não as suas aImas:
porque as suas aImas
habitam a casa de amanhã
que não podeis visitar,
nem sequer em sonhos.

Podeis esforçar-vos por ser como eles;
mas não tenteis fazê-los como vós.

Porque a vida não vai para trás,
nem se detêm com o ontem.

Sois os arcos, e os vossos filhos
as setas vivas projectadas.

O Arqueiro vê o alvo no caminho do infinito,
e reteza-vos com o seu poder
para que as setas
possam voar depressa para longe.

Que a vossa tensão na mão do Arqueiro
seja de alegria.

Porque assim como Ele gosta
da seta que voa,
também gosta do arco que fica.


                                             (Khalil Gibran, in 'O Profeta')

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

"A birra apanhou-me!"

Esta é a "nossa" estória! Partilho-a agora com vocês.
Começou há seguramente 3 anos e meio. Começa com um urso a que demos o nome de "Urso Mau" (não sei explicar a escolha do nome, pois o Urso Mau é um fixe!).

A Popotinha é uma criança igual a qualquer outra: exige mimo, montanhas de atenção, autonomia, quer brincar tanto como dormir, frusta-se tal como ri e sorri, grita e fala alto, quer abraços e quer que a entendam. Tem birras como eu e tu! 
Mas, às vezes, as birras ficam com ela, ela não lhes consegue fugir. Nessas alturas, pergunto-lhe: "_ A birra apanhou-te!", com carinho, empatia... Ela confirma! Então montamos a caça à birra! Tiro-a do sítio onde está, vamos para ao pé de uma janela ou porta, e tiro-lhe a birra. Ás vezes está nas costas, outras atrás das orelhas e é retida nas minhas mãos em concha e atirada pela janela/porta ou vai para o bolso quando não tenho alternativa. Para ela não voltar, o Urso Mau apanha-a e fica com ela. 
Já aconteceu ir de férias e as birras eram muitas. A Popotinha confidenciou-me que o Urso Mau tinha ido de férias também. Pedimos reforços: chamamos o seu primo - o Urso da Natura!

A Popotinha agradece sempre ao Urso da Natura quando o vê!
Já chegámos a ir de férias para bem longe e pedimos antecipadamente para que eles os dois viessem connosco. Mas as birras vinham tanta vez aborrecer a Popotinha que tive de perceber o que se passava. A Popotinha disse-me que eles aproveitaram o passeio e foram fazer canoagem de manhã e ainda não tinham voltado. Quando eles voltaram, invoquei o contrato das férias. Que falta de profissionalismo!! 
O Urso Mau já chegou a ficar com birras minhas e do pai também. Mas voltaram e a perspicácia da Popotinha informa-me que tinha deixado a janela aberta e a birra era tãaao grande que o Urso Mau não a aguentou sózinho. Ajudou-me a tirá-la de cima de mim e chutamo-la pela janela com força e rapidamente fechamos a janela. Ufa!!

Ok! Vamos a explicações de desenvolvimento infantil.
O lobo frontal começa a desenvolver-se mais, com grandes ligações neuronais, após um ano de idade. Deve-se à necessidade do bebé de aprender as percepções sociais e emocionais do mundo evolvente. Começa a perceber o que é certo e o que é errado, normas de conduta da sociedade (nesta fase, meramente relacional-dual), o que é esperado ou não dele. Então começa a perceber melhor como relacionar-se com o mundo, começa a perceber como pedir, chamar a atenção, e a lidar com frustrações, necessidades de outros níveis para além do dormir, comer e querer o corpo da mãe/pai. Um fabuloso mundo de ligações começa em força! Lindo! "Os terriveis 2" estão aí! Há especialista que referem que não existe esta fase, considerando que o desenvolvimento neuronal não termina, então não existe fase. Existe aprendizagem e formas de lidar com as nossas próprias emoções, alternativas, aceitações...
Até sensivelmente aos 7 anos, o pensamento mágico domina o mundo da criança!
Perceber isto, quer dizer que podemos utilizar as técnicas de externalização de todas as emoções que a criança ainda não sabe o que é, quanto mais nomeá-las! Lembrem-se que as birras dizem respeito a uma necessidade não colmatada, de segurança, de fome, de sono, de necessidade de conexão! (mais informação aqui e aqui

Outro exemplo prático, pode ser em relação ao monstro que teima em estar no quarto. Podemos ajudar a procurar e podemos estimular a empatia da criança e a sua curiosidade nata para lhe perguntar: "_ Sério? Será que ele quer jogar às escondidas? O que será que ele quer? Será que tem sede? Podíamos-lhe deixar um copo de água! Será que ele se quer aquecer? O teu quarto até é quentinho."

Percebem a ideia?

E a vossa estória, qual é? :)

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Lidando com a morte!

A perca recente do meu pai ainda não me permite vir aqui escrever com uma estrutura de pensamento e, acima de tudo, de concentração, que me permitam fazer um texto bonito! Mas tenho intenções! 

Entretanto queria partilhar convosco as partilhas que a minha mestre me vai fazendo!
Tem lidado com a morte de perto este ano e, com 4 anos, percebeu que a vida é finita! A angústia maior foi perceber que "os pais também morrem?!"

Hoje, antes de adormecer disse-me: "Sabes mãe, os pais não morrem! (Sorriu) Eles vivem sempre no nosso coração!"


domingo, 16 de agosto de 2015

Quem precisa de time-out somos nós!

Ontem, enquanto praguejava babuseiras, cá em casa, aproposito do Sr. Jonas Pistolas fazer as necessidades na sua zona de conforto (que só por mero acaso TAMBÉM É A NOSSA) a Popotinha veio chamar-me a atenção que fui incorrecta e dura e que da próxima vez tinha de ir ter um "chá de cadeira"!
Parei! ... Sorri! E assumi:
"-Tens razão! Enquanto tivesse na cadeira fico a fazer o quê?"
"-Olha, ficas a pensale, quelalo!!"
"-O que devo pensar, Popotinha?"
"-Olha, metes o dedo aqui (coloca o indicador no queixo) e ficas lá!"

Repara, a Popotinha não sabe o que fazer!
Quando dizemos às crianças que "Vão para a cadeira" temos de ter noção que elas não sabem pensar... sozinhas! Elas são seres humanos que vivem no auge das suas emoções, mas ainda não lhe sabem dar nomes. Então a criança percebe que tu estás zangado e que não gostaste do que ela acabou de fazer. Mas sente que não gostas dela, não do comportamento que ela fez. 
Repara no que dizes: "Já te disse que não se morde nos teus amigos!", "Não se empurra!", "Quantas vezes tenho de te chamar?!" - dizes tudo o que não é para fazer. Está na altura de dizeres o que é para fazer!
Repara, antes dos 7 anos, não existe pensamento abstracto! Tudo é concreto, imediato, causa efeito e sentido na pele. 

Acompanha, então, a criança, no seu pensamento, no seu sentimento, nas suas fragilidades e conexões maravilhosas acontecem no córtex frontal (responsável pelo discernimento do bem e do mal, das escolhas, de tempo...) e contigo!

Às vezes, o peso da nossa historia e tradição fala mais forte. Eu sei! Sou como tu! Por isso, quando estou claramente a perder os meus limites...:
"Vai já para o teu quarto... que eu já lá vou ter!"
Retiras a criança do sitio da birra, tens tu o teu time-out, respiras, e transformas um momento de descontrolo numa verdadeira conexão - time-in!


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Aprender pela positiva

Estes dois já me ensinaram! Maravilhoso!


Como é obvio, o Sr. Jonas Pistolas, ainda não sabe que o seu WC não é em casa. Como ainda não está aconselhado a ir à rua pelo Dr., gostaríamos que fosse à varanda. Esta situação revela-se desafiadora para a família.


A Popotinha ralha com o Jonas, e vira-se para mim e diz "Cuidado que ele é pequenino. Não se bate!"

Mas o momento do click para mim, deu-se com um olhar da Pinipon! (Primeiro axioma da sistémica - "Impossível não comunicar!"): Estava a ralhar aproposito de um dejeto no meio da sala, e dei uma palmada ao Jonas. A Pinipon olha-me... "o que foi aquilo??! O que terá feito a minha mãe?!?" Nada confortável, digo-vos!
Pouco tempo depois fez na varanda. Levou uma recompensa e a vez seguinte voltou a fazer na varanda.

Moral da história: andei uma semana a ralhar e nada. Com uma recompensa a aprendizagem foi super rápida.

Fazendo a devida analogia, com os devidos distanciamentos, percebemos que a literatura aponta para processos de aprendizagens mais rápidos com abordagens autoritárias e punitivas. No entanto, a consistência no tempo e possibilidade de ligar conceitos, numa aprendizagem verdadeiramente lógica-dedutiva e verdadeiramente motivadora, verifica-se em abordagens conscientes, pacientes, de reconhecimento e amor.

Na mesma linha, importa referir que a aprendizagem também é mais rápida e empoderada quando a abordagem é pelo que se pretende ensinar e não pelo que não se quer. Por exemplo: "Vai para o chão!" versus "Não vás para o sofá. Vai para o chão!"
Faz lembrar aquelas pessoas que dizem "Eu não quero ficar gorda!"; "Eu não quero aquela parede pintada de vermelho." O cérebro perde muito tempo a perceber e processar a informação do "Não quero", com os seus 'porquês', 'não gostos', desenvolver uma resposta emocional compatível com a ordem, para depois conseguir distanciar-se disso e pensar em alternativas, outros caminhos e o que se quer então. 

Ajudei?!

Ah!! Não pensem que já não faz em casa... :( Ainda não está concluída a aprendizagem!

sábado, 11 de julho de 2015

Um novo ciclo começa!

Viva! 

Claro que partilho! 

Jonas Pistolas entrou hoje nas nossas vidas! 
Faz as delícias da Popotinha e os desafios da Pinipon! 
Dois meses de puro mimo! 

O que terá para nos ensinar!?!

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Tens um Pinóquio lá em casa?!

Pois existe a fase da mentira! Existe? Será que existe mesmo? Pois se calhar existe!
Tu já mentiste?! Para quê?!
Para "salvares a pele"?!
Para teres o que queres?!
Porque não querias passar por totó e óbvio que mentiste assumindo que sabias "aquilo" mesmo não tendo percebido?! Ou ouvido a pergunta?! 
Mentiste porque nem te querias chatear?!

Pois, também os mais pequenos!

E ainda, porque não separam o mundo imaginário do real, ou porque os adultos disseram palavras difíceis e eles tiveram que fazer uma interpretação para aquilo lhe fazer sentido.... tantas coisas!

E o que gostavas que te dissessem ou fizessem para que a mentira não surgisse como uma solução?


Bom eu tive uma revelação hoje! Consegui descobrir mais uma razão para a criança mentir.

A Popotinha de vez em quando mente! Quase sempre, a sua mentira, é uma sugestão de que a melhor amiga, a C., lhe fez mal, ou portou-se mal. O engraçado é que esta situação surge quando não estão juntas, e intensifica-se quando não estão juntas há muito tempo.
Ora, óbvio que percebia a mentira porque era impossível ter acontecido quer no espaço, quer no tempo (devia estar o desafiar o Einstein, não?!)

Hoje fez-se um click! Tinha sempre a conversa com ela no sentido de não ser bonito! Mas hoje... hoje... consegui mudar a lente!

SAUDADES! 
Tão simples! Saudades!
Mas a Popotinha não sabe explicar, ainda tem dificuldades em explicar sentimentos, as coisas são abstractas.

Mais uma vez batemos nas necessidades, não é?! (Podes ler mais aqui)
Devemos reconhecer a necessidade e a dificuldade que a criança pode estar a sentir, devolver-lhe o que lhe está a sentir dando-lhe um nome e tentar colmatar a necessidade.

A Popotinha conheceu melhor a palavra "Saudade" e voltou a estar com a melhor amiga. Como será da próxima vez que sentir "aquilo"? "Aquilo" que ela só soube explicar mentindo?! Estou curiosa! 

Muda a lente e vê o que acontece! :)


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Faz a pergunta certa - estratégia #3 para redução do stress

Como tenho vindo a partilhar aqui, o questionamento é uma ferramenta importante num percurso de auto-conhecimento. Dirige-nos e recentra-nos no que, para nós, é essencial!

No entanto, temos muita tendência em questionar "porquês". E pergunto: o que fazes com esta pergunta?

Bom, quando penso naquilo que eu gosto, esta pergunta remete-me para pesquisa e activa-me para uma aprendizagem e uma curiosidade fabulosas. Adoro!

Mas quando me remeto a questões pessoais, do e no passado, de partilha e dos vários papeis que tenho, esta pergunta paralisa-me. 
Como é contigo?

Ouvimos muitas vezes: "Eu hoje sou assim, porque na minha infância....", "Sou assim porque uma vez..."! Ora na verdade nada destas questões, destas respostas à pergunta "Porquê?" nos acrescenta alguma coisa, ou nos indica um caminho. Trás-nos conhecimento e compreensão, o que numa primeira fase é importantíssimo. Passamos a ver uma verdade!

Agora aprecia a magia se fizeres outra pergunta: "Como?"

"Como posso/podemos fazer melhor?"
"Já tentei assim e assim. Não gostei dos resultados. Como posso fazer diferente? O que é que eu ainda não experimentei?"
"Não concordo contigo. Como podemos chegar a um consenso?"


A nossa mente não se permite a ficar com um "porquê" sem resposta. Então começa a divagar.
Se a pusermos a pensar no "como?" focamo-nos na acção e na solução! E podemos ser heróis todos os dias! Acredita no potencial da pergunta. E mais ainda, acredita no potencial das tuas intenções: 
"O que queres? 
Como podes fazer para o conseguir? 
Hoje podes fazer o quê?"


E com o teu filho? Em vez de "Porque não queres arrumar os teus brinquedos?" se tentares "Como podemos arrumar os teus brinquedos? Posso ir buscar a caixa e tu colocas lá dentro, ou vais tu buscar a caixa e coloco eu os brinquedos na caixa?".
Para além de o teu filho se focar na acção, compromete-se com ela, até porque tu também és mais criativa(o), apresentando logo uma solução e uma escolha. A pergunta de "Como?", funciona quase como o teu espaço de respiração, para pensares e comunicares diferente. Como promoves uma escolha em cooperação, também motivas e sentes-te motivado.

Boas perguntas!

sábado, 25 de abril de 2015

O nome que dás às coisas - estratégia #2 para redução do stress

A segunda proposta que te trago é bastante engraçada!

Como já disse no primeiro post deste blog, nada que vos trago é novidade, mas partilho ideias de outros que fazem ressonância em mim, e vão surgindo na minha cabeça em contextos da minha vida quotidiana. 

Cá em casa o que o FM mais diz numa conversa normalíssima é: "Deixa que eu resolvo isso!". Em que contextos?
-"Vais pôr o lixo lá fora?"
-"Olha que quando formos ao supermercado, é preciso comprar detergente para a loiça."
-"O Pinipon já não tem sopa, é preciso fazer."
Ora se a resposta é resolvo, trata-se de um problema, não?!


O truque para baixar níveis de stress desnecessários, passa também pela linguagem.

Sugiro-te que passes a usar as palavras: "situação", "dificuldade", "questão", e não utilizes "problema".
Fecha os olhos, e no exercício de "3 minutos de respiração", está atento a como te sentes quando pensas "Eu tenho um problema!" versus "Eu tenho uma dificuldade/questão/situação"

O que acontece normalmente é que "problema" tem uma carga pesada, demasiado difícil e sentimos desesperança.
"Situação", "exercício", "dificuldade", remete a pessoa para a consciencialização da situação, do que ela nos faz sentir, curiosidade pela questão e pelas soluções, e remete-nos naturalmente e mais facilmente para a acção. Activamos mais facilmente os nossos recursos!
Quando pensamos em "problema", normalmente o pensamento seguinte, e pior ainda, a frase que nos ouvimos dizer é: "Eu não consigo!". Entramos facilmente num ciclo vicioso de infortúnio e desalento. 

Desafio-te a iniciares um ciclo de aventura, desafio, de novidade e noção de competências que tens dentro de ti. 
Compromete-te contigo!!

P.S. - Estava aqui a pensar: Imagina que dizes ao teu filho: 
"_Este exercício de matemática é mesmo um desafio. Vamos ter de pensar juntos." em vez de "Realmente este problema de matemática é difícil." .....

terça-feira, 21 de abril de 2015

"Mãe!! Respila!" - estratégia #1 para redução de stress

A Popotinha várias vezes me recomenda esta técnica!

Ontem ao jantar pediu-me várias vezes para recorrer a ela. Inclusivamente num assertivo comando, a determinada altura da hora da refeição: "Mãe!!! Respila FUNDO!"


Às vezes as birras instalam-se e quer ela quer eu as agarramos como se não as quiséssemos deixar ir embora e estivéssemos a fazer uma competição... poder! Pois, mais vezes ainda precisamos ir à nossa respiração.

Ontem, parei e convidei-a então, para respirar comigo. Fizemos 3 longas e profundas respirações e... a magia reinou!


Esta é uma técnica simples de meditação, que nos ajuda a recentrarmo-nos com os nossos valores e princípios - Mindfulness. Por conseguinte, torna-se fundamental para nos ajudar a fazer escolhas conscientes! São 3 minutos apenas, onde crias espaço! Crias espaço para respirares e para ampliares a tua consciência, a tua presença, o teu estado espirito...


"3 Step/Minute Breathing Space"

1- Pára! Fecha os olhos (ou olha para baixo 1 ou 2 metros à tua frente), senta-te se poderes e torna-te consciente: do teu estado (Como te sentes? Que pensamentos te passam na cabeça? Como está o teu corpo? Que sensações?...)

2- Foca-te agora na tua respiração! De forma muito clara, consciente. (Sente o ar a passar no nariz, a passar na garganta, talvez a entrar nos pulmões, sente o ar a sair...). Regressa à respiração sempre que reparares noutras coisas, sempre que possível.

3- Expande-te! Repara no teu corpo todo, sente os pés no chão, o corpo na cadeira (ou o corpo de pé), repara nas tuas sensações, os sons que estão à tua volta, sente o ambiente...

baseado no curso de 8 semanas MBSR by Karunavira, Universidade de Bangor)

Utiliza, tenta, 3 minutos do teu dia....:
pode ser a lavar os dentes, a tomar banho, a lavar a loiça, pode ser no parque de estacionamento... 

Boas conexões... contigo!

segunda-feira, 6 de abril de 2015

A minha mestre ensina-me a lidar com o luto!

Todos desejamos uma boa Páscoa! Eu também, claro!
A minha Páscoa foi muito especial.

Convenhamos que Páscoa quer dizer "passagem para novos tempos". É sinal de esperança e não é só para os Católicos. A Páscoa está invadida de significados que vale a pena lhe darmos a devida importância: o ovo - simbolo de vida; o coelho - simbolo de fertilidade; o peixe (comer peixe) - simbolo de vida dos primeiros apóstolos, os pescadores...
Na Sexta-feira enterra-se o que não se quer mais, o que não nos faz falta, depois de uma caminhada de meditação do corpo e da mente e no Domingo renascemos para uma nova vida, uma nova esperança. 


Neste percurso que estava a fazer, tentando perceber tudo isto que representa este período, a minha mestre, ontem à noite pediu uma folha e uma caneta para escrever "um escrevido".

Enquanto escrevia falava o que escrevia:
"O Maley é o nosso cão.
Ele já foi para a minha estelinha.
Tenho xaudades dele!"

A Popotinha vai lidando assim com a perda! Vai falando que ele está na sua estrelinha, fica tãooo feliz quando vê a primeira estrela no céu, ou a mais brilhante. Pede ossos para lhe dar... enfim, mantêm-o vivo no seu coração.

É uma boa técnica de lidar com o luto! Escrever cartas aos "nossos", com aquilo que nos vai na alma, com o que não lhe dissemos e ainda gostávamos de dizer.

Tudo isto começou a ser estudado acima de tudo com doentes terminais. A psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, inicia esta caminhada e percebe que há fases que a pessoa enlutada passa:
1. Negação
2. Raiva/Ira
3. Negociação
4. Depressão
5. Aceitação e adaptação à perda
(em Sobre a morte e o morrer, 1969)

Coloco aqui um vídeo engraçado sobre as fases do luto e que ajuda a perceber! (1 minuto e meio)

Ainda hoje usamos os ensinamentos de Kübler-Ross, mas também temos modelos mais simplistas e direcionados para a tarefa, como os de Humphreys & Zimpfer , 1996, que continuaram o trabalho de Tames, 1977, que propõe 3 tarefas/fases:
1. "Choque"/Entorpecimento
2. "Desorganização"
3. "Organização"

Aprender a viver com as perdas, em bom, faz parte do nosso desenvolvimento pessoal, humano. Faz parte da vida a morte também. Aceitá-la é magico!

"Quando acabamos de fazer tudo o que viemos fazer aqui na Terra, podemos sair de nosso corpo, que aprisiona nossa alma como um casulo aprisiona a futura borboleta. E, na hora certa, podemos deixá-lo para trás, e não sentimos mais dor, nem medo, nem preocupações - estamos livres como uma linda borboleta voltando para casa",  - de uma carta a uma criança com câncer, no livro "A Roda da Vida", Elisabeth Kübler-Ross.


domingo, 29 de março de 2015

Uma Birra de 2 dias...Chiça!

Venho aqui em jeito de desabafo e partilha... a ver se aprendo!

O meu mestre, Popotinha, foi acompanhar-me à natação da Pipipon! Terceira vez que foi. Supostamente tem de entrar dentro do "recinto", desta vez até tinha uns chinelos para andar convenientemente calçada no espaço, e tem de estar 30 minutos parada a olhar para piscina, onde pais e bebes sorriem alegremente com exercícios e brincadeiras, até temos bonecos coloridos, cavalos marinhos, e coroas de princesas. Esta descrição já me coloca mais empática ainda com o meu mestre!


A Popotinha, quase no fim da aula, depois de ter brincado com umas coroas, ter molhado as coroas das sereias, e por conseguinte, molhado as mangas, apesar das ter arregaçado, eis que decide que as sandálias novas também mereciam ir à água. Se bem pensou, melhor o fez: arregaçou as calças até aos joelhos, sentou-se na beirinha da piscina e... zuca! Quando vi, pedi-lhe que saísse, que se chegasse para trás, enquanto terminava mais uma voltinha com a Pinipon. Olho para ela, e lá estava ela a fazer a vontade aos pés.
Desobediente? Hum... 

A situação continuou no balneário, onde passava em cima de água que estava no chão, saltava, e decidiu mesmo verificar a situação com as mãos, de joelhos, e com o casaco vestido, já pronta para sair. 

Vim para o carro e disse-lhe que estava mesmo muito zangada com ela! Fui tãooooo convincente que a Popotinha tinha os olhos cheios de lágrimas. (Este paragrafo dá a sensação que fui assertiva, mas acho que fui mais agressiva!)

Depois consegui falar com ela sobre o que não gostei, porque não gostei e o que seria bom que ela fizesse. Ela percebeu, pediu desculpa. Fim!

Não!!!! Eu tava com birra! Eu volta e meia voltava aqui. De cada vez que ela fazia outra coisa que eu não gostava, voltava aqui. 

Carlos Gonzalez, no livro "Bésame Mucho", tem uma história destas. Acrescenta ainda aquela máxima do "Vou contar ao teu pai, quando ele chegar. Ele vai ficar muito satisfeito, ai vai vai." Coitados dos pais que estão ausentes naquele momento específico da birra, ficam sempre com o papel do mau. E nem sequer têm hipótese de escolha.
Depois quando o pai chega a casa, feliz de ver o filho e o filho a ele, fazem uma festa e vem a mãe "Agora conta ao pai o que fizeste!" - Quem é que tem a birra agora?

Pois foi exactamente o que consegui fazer: "Popotinha, agora vais contar ao pai porque estou tão zangada contigo?". Claro que ela não quis contar. E continuei a fazer isso no dia seguinte. 

Estamos a baixar a auto-estima dos nossos filhos, e ainda estamos a alimentar uma má energia. Claro que enquanto me centrei neste acontecimento desta forma, o que consegui foi não lidar bem com mais nada que ela tenha feito. Aconteceu, falou-se, damo-nos a conhecer e propomos a empatia ("Não gostei nada do que aconteceu! E depois quando não fizeste o que te pedi, o que achas que senti?"), reiteramos o que aconteceu e não devia, dizemos o que deveria ter acontecido, se a criança explorar esta parte por si melhor ainda, conseguimos aumentar a criatividade da criança para a procura de alternativas e soluções para o futuro, e pronto! Tudo o resto que fazemos tem a ver com o nosso ego!

Hoje, um rapazinho a brincar com ela, perguntava-lhe "Portas-te bem?". Ela abanava a cabeça que sim e sorria e olhava timidamente para mim. "Vou perguntar à mãe?" - Claro, que não se pode confiar nas crianças. Perguntou e eu disse a olhar para ela "SIM". Os olhos brilharam, a auto-estima restaurou-se!!!

Percebi tudo isto que escrevi, quem estava a fazer a birra, o estrago na auto-estima na Popotinha e acima de tudo: Porque ela fez o que fez? 
A Popotinha adora água, piscina, mar... Solução para a sua desobediência que falei há pouco: ir com ela à piscina!

Quando me perguntam o que fazer para serem mais obedientes, não tão mal comportados (quer dizer que ainda se permite um bocadinho).... pois depende! 

Vamos lá pensar um bocadinho nas necessidades! Estão colmatadas? (Explora aqui mais um bocadinho)

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Devemos dizer mais sim's que não's! Controverso?!?! Nã.. ora lê!

No outro dia, decidi ter um dia só com a minha filha mais velha... hummm! Acho que este post é mais para me redimir!!
Bom, um dia de mulheres, claro que fomos ao shopping! Saí de lá não muito confortável - Passei o tempo todo a castrar a Popotinha!
"Não vás para ai!"
"Não quero que andes tão longe de mim!"
"Não mexas ai, que isso não é teu!"
"Cuidado com isto, cuidado com aquilo." 

Ui, já estava farta... mas no fim percebi que estava farta... de mim! Oh que mãe chata! Que castradora!

Hoje ao jantar estava a comentar com o FM que não ando a lidar bem com a Popotinha! Estou sempre no discurso da consequência/castigo: "Se não queres ver mais o filme, nunca mais te empresto o iPad!", "Se voltas a gritar, não volto a responder-te!", "Se...", "Se...", "Se..."
Ufa!! Comentei também que passei o tempo todo que fui com ela ao shopping a dizer que "não isto, e não aquilo". Quando ele me diz "Mas tem de ser assim às vezes, para ela perceber!", tive uma luz!

Não, não tem!

As crianças aprendem maioritariamente por modelagem e precisam ser claramente orientadas. Dizer "não faças isso" é muito redutor para alguém que está a aprender. "Então como deve ser?" - esta seria a pergunta que deveriam fazer, mas sabemos que as crianças não fazem, e nós, no auge da nossa idiotice, não damos sequer uma pista. Limitamo-nos a mostrar uma cara de chateados e reforçamos um "Já te tinha dito que não te queria a mexer ai. Quantas vezes tenho de te dizer?"

A comunicação pode ser diferente! Devemos orientar a criança, dando-lhe uma mensagem muito clara e verdadeira, mostrando-lhe quem nós somos, o que gostamos ou não, como nos sentimos mais confortáveis ou menos, damos-lhe a conhecer os nossos limites, para a criança perceber as regras, até onde pode ir com a liberdade do outro. Assim, vai percebendo onde é que ela se situa, até onde, como, pois a criança é, acima de tudo, empática. 

Ou seja:
1. diz o que sentes;
2. respeita o espaço dela;
3. pede/diz o que pretendes!

Vamos a exemplos? Vamos!

"Não me sinto muito confortável a ver-te correr nos corredores do shopping. Deixo-te de ver! Anda mais junto a mim!"
"Essa camisola é gira!? Quando terminares de ver, arruma novamente no seu sítio."
"Sabes que não gosto nada de ver os casacos espalhados. Já percebi que agora estas a ver desenhos animados. Quando terminar o episódio, vai pendurar o teu casaco no quarto."
"Já tenho o jantar pronto. Quando terminar as Winx podes vir para a mesa, que eu espero mais um bocadinho por ti."
"Uau! Estou a ver que te divertiste muito aqui na sala. Mas sabes que gosto da sala arrumada, depois de brincares. Fazemos assim, vou deitar a mana enquanto arrumas os teus brinquedos, que eu já venho ajudar-te!"


Se queres que o teu filho "não seja do contra", não esteja sempre a "testar os teus limites"... não passes o dia a dizer-lhe isso mesmo! 

E já agora... Sê indulgente!

P.S. - Óbvio que esta comunicação serve para outras "crianças" ;) 
          Imagina que comunicas assim, de forma tão clara, com o teu par? 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Prevenção de abuso sexual de menores

Tenho tido esta temática na mente e fiz a mesma pergunta que estás a colocar agora: "como é que eu vou falar com o meu filho de três ou quatro anos sobre isto?”. 

Analisando as estatísticas mundiais neste âmbito, temos números alarmantes:

  • 1 em cada 5 crianças é vítima de abuso sexual;
  • mais de 70% são abusos intra-familiares, não necessariamente com laços familiares biológicos, mas pessoas muito próximas da vitima.

Rute Agulhas, psicóloga forense há 17 anos em portugal, no Instituto de Medicina Legal de Lisboa, tem vindo a alertar para esta problemática (em 2003 publica o livro "Amor Baldio-uma Estória de Abuso Sexual Infantil", e agora, em parceria com Alexandra Anciães, também psicóloga forense, publicam o livro "Casos Práticos em Psicologia Forense", com o objectivo de dar maior visibilidade à forma como a investigação cientifica pode e deve estar subjacente aos processos de avaliação psicológica forense.)



Rute Agulhas diz-nos que em Portugal não se faz prevenção dos abusos sexuais de menores, ao contrário do que acontece noutros países, nem há um programa específico para tratar jovens agressores sexuais, o que se torna imperativo quando as estatísticas mostram que metade dos abusadores adultos começaram na adolescência. 

"A partir dos três ou quatro anos, os pais devem começar a advertir os filhos contra os riscos de virem a ser abusados, sem ser necessário falar sobre “masturbação ou penetração'", diz Rute Agulhas na entrevista à Rádio Renascença de 14/02/2015.

Então vamos lá sugerir uma forma de falar com os nossos filhos/educandos sobre estas questões: 

“Temos que falar sobre outro tipo de questões. Temos que ensinar às crianças o que é o corpo, quais são os direitos sobre o corpo, de quem é aquele corpo, quem pode mexer, quem não pode mexer, como é que pode mexer”, exemplifica Rute Agulhas.

Sugiro-te o livro "Kiko e a mão" para leres com o teu filho, e antes disso lê estas recomendações. 
Repara que não precisas de te sentar com o teu filho e dizeres "Agora vamos ter uma conversa séria!". Aproveita momentos de brincadeira ou os mais normais do vosso dia a dia: a tomar banho, numa conversa ao jantar, e coisas de 5 minutos chegam. 


Atenção ainda, aos "não's" que dizes ao teu filho! - És congruente ou coerente???
Às vezes dizemos e pensamos "se é 'não', é 'não' até ao fim". Mas às vezes não é bem assim. Há excepções, e saborosas excepções. Tudo depende das tuas intenções.
Se a minha filha for convencida a perder a virgindade com o namorado, quando adolescente, ela dirá "sim". Combinam e tal. Mas... e se ela não se sentir preparada..?!?! Espero que ela não leve a sério a regra COERENTE que "se é 'sim', é 'sim' até ao fim" e saiba ser CONGRUENTE com aquilo que sente, e volte atrás e saiba dizer "não, não me sinto ainda preparada"!

Pois é! Começa tudo na educação que lhe queremos dar!
Que saibamos respeitar sempre as nossas intenções!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Elogios?! Dou só q.b....

Há coisas que sabemos, mas mesmo assim fazemos asneiras!

A Popotinha fazia desenhos e eu elogiava! Sabem qual foi o resultado?! Passou a não desenhar!

Vamos lá ver se vos sei explicar!

O elogio em si, não faz a diferença! Antes pelo contrário. A criança percebe que está a ser julgada, pois existe o seu oposto: 
"Que desenho tão lindo!" vr "Que desenho tão feio!". - Que sentimento inseguro!
"Foste tão linda a subir as escadas sozinha!", 
"És tão linda quando comes a sopa toda!", "Gosto tanto de ti quando te portas bem!" ("O meu pai pode gostar menos de mim???????")

Mas é importante elogiar!? Claro que sim! Mas o esforço! E é ainda mais importante RECONHECER! Aliás, é uma excelente ferramenta para evitar birras!!

No dicionário já dá para perceber a enorme diferença:
    Significado de Elogio
       s.m. Discurso em louvor de alguém: elogio académico.
       Louvor: fazer elogios a alguém.
    Significado de Reconhecimento
       s.m. Ato ou efeito de reconhecer: reconhecimento de um direito.
       Lembrança de um benefício, gratidão por ele: testemunhar reconhecimento.

O elogio vai directo ao Ego, estimulamos a auto-confiança da criança. O reconhecimento permite-nos trabalhar a auto-estima da criança.
Por exemplo: "Tu jogas mal à bola Filipa! Parece que a bola é quadrada para ti." Isto é o contrário do elogio. Eu sei que jogo mal à bola, mas não abala a minha auto-estima. Eu perceber que não consigo fazer uma actividade. Gosto de mim à mesma, independente das minhas conquistas ou comportamentos.

É importante que a criança perceba o "porquê" e o "como", consiga perceber a evolução dos seus feitos, das suas conquistas. É importante que entre em empatia e que perceba que sentimentos lhe transmite. É importante, ainda, que te mostres interessado, falando na primeira pessoa e descrevendo o que reparaste. Ah e repara nos pormenores!

Vamos a exemplos? Bora lá:

"Obrigada por teres arrumado a tua roupa. Assim deu-me tempo para ir dar banho à mana antes de jantar."
"A semana passada o papa ajudou-te a subir as escadas do escorrega. Hoje já conseguiste sozinha. Olha para trás e vê o que subiste."
"Neste desenho que fizeste reparei que colocaste o papa a sorrir. E aqui fizeste muitos círculos. O que significam?"
"Reparei que fizeste estes legos para fazeres uma fortaleza para as tuas bonecas! E agora o que vais fazer"~
"Enquanto me ajudavas a estender a roupa, reparei que me davas as molas amarelas primeiro, depois deste-me as azuis e por fim as vermelhas. Já percebi que sabes as cores e ainda me ajudaste imenso. Conheces mais cores?"
"Hoje vi-te jogar. Parece que te estavas a divertir tanto... :)"
"Hoje vestiste-te sozinha! Senti-me feliz porque tu percebeste que consegues e ajudou-me muito de manhã, que estava atrasada. Obrigada"

Incentiva o teu filho a falar, em vez de terminares a conversa com um elogio. 

Dares incentivos não verbais também é óptimo: um sorriso quando o teu filho está a estudar; uma festinha quando está a ler...

Hum... percebes a diferença?!

Eu também gosto que o meu marido me reconheça: "Conseguiste fazer o jantar enquanto eu tratei das miúdas. Agora temos tempo de vir aqui para o sofá namorar!" versus "Fizeste um bom um bom jantar. (Já nem me consigo levantar! Trata tu das miúdas!- pensa ele)"

Boas conexões!